A 14 de agosto de 1385, nos campos de Aljubarrota, dois exércitos aprestavam-se para travar uma batalha decisiva: estava em causa a independência de Portugal ameaçada pelas forças do rei de Castela, favoravelmente recebidas pela regente D. Leonor Teles.
A resistência lusitana contra 30 000 espanhóis pertencia a 7 000 portugueses, comandados por D. Nuno Álvares Pereira e por D. João, Mestre de Aviz.
Na tarde daquele dia, D. João, em profundo recolhimento, antes da batalha, orou demoradamente à Virgem e fez a promessa de mandar erguer em sua homenagem um mosteiro, se o exército português levasse de vencida as hostes castelhanas e a independência do reino deixasse de perigar.
A vitória pendeu, como se sabe, para o pequeno agrupamento português, apesar da desconforme disparidade de forças. E o Mosteiro de Santa Maria da Vitória da Batalha – obra enorme para as potencialidades económicas do país naquela época – tornou-se também uma realidade.
Erigido a poucos quilómetros de Aljubarrota, nas terras do vale do rio Lena, as obras de construção do Mosteiro parece terem começado cerca de 1388. Os trabalhos preliminares e o plano geral do Mosteiro preocuparam sobremaneira o então rei D. João I. Vários arquitetos foram consultados até que, finalmente, a escolha recaíu no arquiteto português Afonso Domingues.
O plano geral da construção integra-se no pensamento das casas religiosas já construídas em Portugal. Da traça primitiva, porém, não faziam parte a Capela do Fundador nem o Panteão de D. Duarte (conhecido por Capelas Imperfeitas, no sentido de não acabadas). A primeira foi construída por vontade expressa de D. João I no seu testamento e as segundas por ordem de seu filho e sucessor D. Duarte.
A fase mais importante das obras do Mosteiro foi realizada no período joanino e corresponde à construção da Igreja, Sacristia, Claustro Real e Sala do Capítulo. Os trabalhos prolongaram-se pelos reinados de D. Duarte, D. Afonso V, D. João II, D. Manuel I e D. João III.
É no reinado de D. Afonso V que surge a primeira referência aos célebres vitrais do Mosteiro e no reinado de D. Manuel é dado novo aspeto ao Claustro Real e às Capelas Imperfeitas, o que veio a originar certa preponderância do estilo manuelino no edifício.
Era natural que ao longo de tantos anos que demorou a construção, vários arquitetos ficassem ligados à obra. Entre eles salientam-se, além de Afonso Domingues, o criador do plano geral e que dirigiu os trabalhos do início até 1404, Mestre Ouguête, arquiteto estrangeiro continuador do plano de Afonso Domingues mas que até 1438 orientou as obras e, como é lógico, influenciou-o segundo os seus gostos pessoais, em especial harmonizando o gótico do Mosteiro com o gótico inglês, conhecido por
perpendicular style.
A estes dois arquitetos seguiram-se muitos outros entre os quais é justo destacar Mateus Fernandes que tomou a seu cargo a direção da obra de 1480 a 1515 e lhe insuflou os elementos manuelinos – Mateus Fernandes foi o maior génio do manuelino – (anote-se que são da sua autoria a ornamentação das Capelas Imperfeitas e do conhecido pórtico, uma das mais extraordinárias criações da arte manuelina).
Finalmente, seguiu-se a série dos arquitetos Taqua de origem flamenga, que tiveram, sobretudo, influência no trabalho de vitrais.
Muitos são os elementos de grande valia artística e mesmo de originalidade integrados no Mosteiro. Em primeiro lugar, o pórtico de entrada, provavelmente o mais belo pórtico de todos os monumentos portugueses, em que só é pena algumas das 78 estátuas das arquivoltas não serem originais; o Templo propriamente dito, uma das mais notáveis manifestações do gótico; a Capela-Mor, onde se guarda um considerável conjunto de vitrais do período manuelino; a Capela do Fundador onde está o túmulo de D. João I e de D. Filipa de Lencastre, bem como os dos seus filhos, incluindo o do Infante D. Henrique; o Claustro Real onde se conjugam os dois estilos: gótico e manuelino; a Sala do Capítulo coberta «pela mais arrojada abóbada de Espanha e Portugal» no dizer de Dieulafoy ou «uma das maravilhas da arquitetura medieval» segundo Bertaux; as Capelas Imperfeitas onde se destaca o pórtico e, finalmente, a Lógida, construída no reinado de D. João III, subordinada ao espírito renascentista e que, por isso, oferece um contraste um pouco violento com a ambiência gótica.
Demorou o Mosteiro da Batalha cerca de 130 anos a ficar pronto. Obra de fé que aos poucos se transformou em símbolo artístico de extraordinária importância, o Mosteiro representa assim dois pólos do caráter português: a sua perseverança e o seu génio artístico. Considerado peça única na arte arquitetónica europeia, o Mosteiro de Santa Maria da Vitória da Batalha recorda de forma imorredoira os soldados que defenderam em 1385 a independência portuguesa.